Imagem "Corriere", cultura.
O escritor húngaro László Krasznahorkai ganhou o
Prêmio Nobel de Literatura de 2025, tem uma obra caracterizada por um estilo
modernista, com romances longos e narrativas que exploram a alienação e o desespero
apocalípticos frequentemente ambientados em cenários de desintegração social
com estilo marcado por frases longas e parágrafos extensos, abordagem que o
crítico considerou como "realidade examinada até a loucura" cujos
temas preferidos é a condição humana e a fragilidade do tecido social
amalgamado pelo final do comunismo refletido no mais expressivo romance Sátántangó.
Diz ele que na longínqua Idade Média, no meio de ruelas e
imensas catedrais buscando nuvens do céu nasce algo novo que até então nunca
fora visto nem nos antigos gregos e romanos, nem no Egito ou Babilônia, muito
menos no oriente do Nobre Caminho Óctuplo ou Tao nada se compara ao rebento
novo medieval chamado de Amor, mas não qualquer amor e sim, o Amor, aquele mais
puro que até então ninguém sonhara nem mesmo Salomão no Cântico dos Cânticos o
amor de Dante por Beatrice como poderia ser Dulcineia para Cervantes, Shakespeare
a Julieta e em Camões uma deusa do amor este amor surgiu lentamente, invadiu os
corações dos Cavaleiros e trovadores que cantavam seu amor pela amada, um amor
cortês que despertava paixão e devoção, eros e castidade, a presença da mulher
perante o homem e o homem perante a mulher que queriam se tocar sem se tocar, amar sem se amar, ficar longe
de quem queriam perto por que queriam o que não queriam e por que queriam o que
não queriam?
Havia outro amor mais puro, sublime que atingia os
corações dos “poverellos” mendicantes de compreensão mais que de pão que cantavam
loas ao Senhor desde o amanhecer ao por do sol abraçando a todas as criaturas
como irmãs desde o sol até a morte, provocando a ira dos que não suportavam
tanta radicalidade que era impossível viver este amor no mundo mundano, pois
batia com todo bom senso e por isso era insuportável a qualquer um menos com o
portador deste amor o qual impunha o despojo de tudo, de tudo que não fosse
amor e ficar só com o amor, estes dois amores conviveram, mas nunca se
encontraram, pois o primeiro amor, o amor pela amada foi vitorioso e o segundo
amor, o amor ao Senhor, refugiou-se nos conventos e os dois amores ainda existem
como um desejo ideal e prática nas palavras do autor:
“Uma revolução radical em um mundo que continuou sempre
sob os vapores vazios dos ideais, sensação de que entre dois corpos ainda pode
haver um vestido no meio, que entre dois corpos ainda pode haver uma aldeia no
meio, que entre dois corpos ainda pode haver nove paragens de eléctrico no
meio, que a pessoa que eu quero está na Lua, enquanto eu estou aqui na Terra,
porque é completamente intolerável que entre a carne e a fome ainda possam
intrometer-se um garfo e uma faca”.